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sábado, 10 de abril de 2010

Creatina

A quem possa interessar,
Escrevo referente às recentes matérias divulgadas pela imprensa acerca dos possíveis efeitos deletérios das suplementações de proteínas e creatina.
A creatina é um composto nitrogenado sintetizado endogenamente e obtido via dieta, sobretudo em carnes. Embora o consumo médio do europeu gire em torno de 2g/d, relatos em carnívoros apontam que o consumo dessa amina possa chegar a 5g/d. Interessantemente, existem evidências demonstrando que o consumo de creatina dos nossos antepassados – mais precisamente na era Paleolítica – atingia 10g/d.
As alegações sobre supostos efeitos deletérios da suplementação creatina não são recentes. Um antigo documento - de qualidade no mínino duvidosa - publicado pela Agência Francesa de Segurança Médica na Alimentação (French Agency of Medical Security for Food [AFSSA]) gerou grande polêmica ao associar erroneamente o consumo desse suplemento a um maior risco de câncer, embora evidências de alto valor científico apontassem i) a completa ausência dessa relação em humanos e, além disso, ii) fortes indícios de que essa amina poderia reduzir o risco de câncer em modelos animais e in vitro (Jeong et al. Effects of cyclocreatine in rat hepatocarcinogenesis model. Anticancer Res 2000 May-Jun;20(3A):1627-33; Miller et al. Inhibition of rate of tumor growth by creatine and cyclocreatine. Proc Natl Acad Sci USA 1993 Apr 15;90(8):3304-8). Uma das maiores entidades no estudo da suplementação da creatina – Professor Doutor Mark Tarnopolsky (McMaster University, Canadá) - reagiu imediatamente à publicação e lançou mão de duas excelentes cartas sobre a polêmica (que podem ser acessadas pelos sítios (http://www.diet-coaching.com/creatine.html e http://www.diet-coaching.com/creatine2.html), pondo fim ao mal-entendido provocado pela AFSSA e repercutido pela imprensa, com um alto teor de ciência e bom senso.
Em meados de 1998, um relato de caso publicado em uma dos maiores periódicos de Clínica Médica alarmou novamente a sociedade: dois nefrologistas ingleses associaram prejuízos à função renal em um indivíduo usuário de creatina. Ao leitor, cabe salientar que estudos de caso são retrospectivos e não permitem generalizações de resultados ou conclusões assertivas e causais. Prontamente, a comunidade científica reagiu contestando a “ambiciosa” e empírica conclusão dos autores, afirmando que a creatina poderia prejudicar a função renal.
As mortes de três atletas de luta greco-romana nos Estados Unidos também foram associadas ao uso da suplementação de creatina. O inquérito policial constatou, entretanto, que as mortes desses lutadores foram provocadas pelo uso abusivo de substâncias proibidas, como anfetaminas, combinado com regimes de treinamento de altíssima intensidade e manobras arriscadas de perda de peso. De fato, um deles sequer utilizava creatina quando do fatídico acontecimento.
À luz da literatura científica, não restam dúvidas dos efeitos positivos da suplementação de creatina sobre o desempenho físico-esportivo. Porém, mais entusiasmantes e promissores são os achados indicando que esse suplemento tem um papel terapêutico relevante em uma vasta gama de patologias, podendo melhorar os sintomas de pacientes com doenças musculares, ósseas, cartilaginosas, metabólicas, cardiovasculares e neurodegenerativas, sendo a população idosa a mais beneficiada. Quantos aos efeitos deletérios – em especial à função renal – estudos controlados refutam sistematicamente a possibilidade de a creatina provocar disfunção renal em indivíduos saudáveis ou não.
O cenário é bastante semelhante quando se trata de dietas hiperproteícas para praticantes de atividade física. Embora o senso comum sugira que o alto consumo de proteínas – via dieta ou suplementação – possa provocar uma sobrecarga renal, aumentando a hiperfiltração e consequentemente reduzindo a taxa de filtração glomerular, nenhum estudo até hoje demonstrou que dietas hiperprotéicas prejudicam a função renal em indivíduos saudáveis.
É bem estabelecido que o consumo adequado de proteínas promove a positivação do balanço protéico e, por conseguinte, hipertrofia muscular. Cabe salientar que o requerimento protéico diário é levemente superior em atletas e idosos do que em sedentários. Se o consumo “extra” de proteína nessas populações se faz necessário, ou se esse maior requerimento será atingindo via dieta ou suplementação são questões de única responsabilidade dos profissionais de saúde qualificados para tomar tais decisões.
É compreensível que uma notícia negativa acerca de algum suplemento alimentar – como “creatina leva à insuficiência renal” ou “proteína provoca falência hepática” – gere uma maior repercussão na população. Contudo, é necessário que a imprensa considere o grande número de pessoas que pode futuramente se beneficiar desses suplementos alimentares. De fato, um crescente corpo de literatura tem evidenciado maiores respostas hipertróficas em indivíduos – saudáveis ou não – como resultado da ingestão de proteínas (soja, leite, caseína, colostro, “whey”, etc), aminoácidos e derivados (essenciais, leucina, de cadeia ramificada, b-hidroxi-b-metil-butirato, creatina, etc). É importante que se ressalte a possibilidade de que algum(ns) deste(s) não sejam livres de efeitos adversos. De fato, questões como: “a suplementação de creatina e proteínas prejudicam a função renal em idosos, indivíduos nefropatas ou propensos à doença renal?” ainda precisam ser respondidas conclusivamente. Contudo, tal tarefa é de exclusiva responsabilidade de pesquisadores, que se utilizam de métodos científicos adequados para tanto.
Declarações como “Já que você está tomando isso (creatina), vamos colocar logo seu nome na lista de transplante de rim, para garantir no futuro” e “Com isso (creatina), a pessoa acumula mais resíduos tóxicos e sobrecarrega os rins", proferidas pelas nutricionistas Daniela Silveira e Márcia Daskal, respectivamente, e divulgadas por diversos meios de comunicação são infundadas e prestam um grande desserviço à sociedade.
Abaixo, elenco uma série de revisões científicas que corroboram a ausência de efeitos deletérios e eficácia da suplementação de creatina e proteínas:
Poortmans JR, Francaux M Adverse effects of creatine supplementation: fact or fiction? Sports Med 2000 30(3):155-70
Gualano B, Artioli GG, Poortmans JR, Lancha Jr AH. Exploring the therapeutic effects of creatine supplementation. Amino Acids (in press).
Gualano B, Ugrinowitsch C, Seguro AC, Lancha Jr AH. A suplementação de creatina prejudica a função renal? Rev Bras Med Esporte 2008 14(1):68-73.
Campbell B, Kreider R, Ziegenfuz T, La Bounty P et al. International Society of Sports Nutrition position stand: protein and exercise. J Int Soc Sports Nutr 2007 4(8) online.
Lowery LM and Devia L. Dietary protein safety and resistance exercise: what do we really know? J Int Soc Sports Nutr 2009 6(3) online
Burd NA, Tang JE, Moore DR, Phillips SM. Exercise Training and Protein Metabolism: Influences of Contraction, Protein Intake, and Sex-based differences J Appl Physiol (in press)

Em tempo: Nosso grupo demonstrou recentemente que a creatina não prejudica a função renal em um tenista com rim único (Am J Kid Dis 2010 Mar;55(3):e7-9) e em diabéticos do tipo 2 com doença renal crônica pré-existente (dados submetidos para publicação).

Dr Bruno Gualano

terça-feira, 6 de abril de 2010

Nem tão bom assim, Ipad.



Em menos de uma semana após o lançamento do iPad – apresentando neste último sábado (3) nos Estados Unidos – já há várias reclamações de usuários em fóruns e sites especializados. O tipo de reclamação vai de problemas com a conexão em redes Wi-Fi ao tempo de sincronização, que pode ultrapassar 30 minutos. O site "Huffington Post" reuniu alguns problemas enfrentados pelos compradores do gadget da Apple. Confira os principais.


Sinal Wi-Fi oscila muito

Inicialmente, a Apple lançou apenas as versões do iPad com conexão Wi-Fi. No entanto, alguns usuários têm reclamado de problemas com dispositivo de rede sem fio. A reclamação é que em um mesmo local, inclusive com um MacBook e um iPhone conectados a uma rede sem fio de forma estável, o sinal no iPad fica oscilando.


De acordo com o site Product Reviews – especializado na análise de eletrônicos –, esse problema ocorre em função do mau posicionamento da antena wireless do tablet. Segundo o site, a antena fica por dentro do gadget – logo atrás do logo da fabricante. Se isso não for resolvido apenas com atualização de software, a Apple – em um cenário muito pessimista – deverá convocar um recall para troca ou reposicionamento da antena.


Problemas para carregar bateria

Como os outros gadgets da Apple, a forma de carregar a bateria do iPad é através de um conector ligado no aparelho -- em sua outra ponta, ele tem um conector USB. Porém, compradores do tablet dizem ter dificuldades para carregá-lo, quando conectam o portátil em algumas portas USB ou usam determinados carregadores.


O site "Macworld" atribui esse problema a portas USB antigas que não fornecem energia suficiente para carregar o iPad enquanto ele está ligado. A dica que o site dá – enquanto a Apple não se pronuncia – é carregá-lo desligado.



Apps do iPhone travam no iPad

Com o mesmo sistema operacional do iPhone, o iPad aceita a maioria dos aplicativos disponíveis na App Store. Por mais que os apps tenham sido feitos para a tela do iPhone, após alguns toques na tela, ele se adéqua ao "telão" do iPad. Mesmo assim, de acordo com a versão online do "The Times", os programas feitos para o celular travam o funcionamento do computador portátil.


Não apropriado para digitação

Ainda que na posição vertical o teclado virtual do iPad fique grande e espaçoso, o gadget da Apple não é apropriado para quem quer escrever textos longos. A esse respeito, o blogueiro americano Dave Winer – ex-editor da revista "Wired" – escreveu: “nenhuma das minhas ferramentas para escrita estão lá. Não me refiro a ferramentas para revisão e edição de textos, mas coisas básicas como a busca de informações em um texto. Definitivamente, não é uma ferramenta para escrita”.


Sincronização lenta

Em fóruns da Apple, compradores do iPad alegam que o tempo para sincronização de informações do Tablet com o iTunes, muitas vezes, ultrapassa os 30 minutos. Alguns chegam até a dizer que esse processo pode chegar a 7 horas.
"O iTunes reconhece o iPad perfeitamente, mas assim que clico em sincronizar, o iTunes trava", escreveu um usuário no fórum da empresa.